"Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso." Charles Chaplin.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Bruxaria


A freqüente presença do fenômeno milenar da bruxaria em culturas distantes de seu substrato atesta a perpetuação de certas modalidades de funcionamento do espírito humano. No entanto, inúmeros trabalhos etnológicos ou históricos não lograram ainda dirimir todos os problemas ligados a sua definição ou explicação.
Bruxaria consiste no exercício, com intenção maligna, de pretensos poderes sobrenaturais por meio de ritos mágicos e com o fim de causar malefício a certas pessoas ou a seus bens, assim como benefícios diretos ou indiretos a seus praticantes. O fenômeno existe desde os tempos pré-históricos e faz parte dos procedimentos de numerosas crenças animistas. Aparece já em Homero e na própria mitologia grega, em que a feiticeira Medéia ocupa lugar de destaque no ciclo dos argonautas. Na literatura latina, o tema despertou o interesse de vários autores, especialmente Apolíneo, Petrônio e Horácio.
No universo judeu-cristão, a presença das bruxas verifica-se desde o Velho Testamento. Em um momento crucial de sua vida, Saul consultou a feiticeira de Endor, embora pela lei de Moisés a bruxaria fosse punida com a morte. No cristianismo primitivo, conhecia-se a prática de ritos mágicos, mas os apóstolos consideravam-na fruto de ardis do demônio, pois entendiam que somente Deus dispunha de poderes sobrenaturais.
História. A bruxaria ressurgiu e intensificou-se na Europa do século X ao XII, quando as heresias dos cátaros trouxeram de volta a crença na influência do demônio, o que favoreceu a interpretação de que a bruxaria era produto do contato com suas forças. Realizaram-se nesse período vários processos contra bruxas, promovidos pelo poder civil. Entretanto, a questão só assumiu aspectos dramáticos a partir do século XIV, quando a igreja implantou os tribunais da Inquisição para reprimir tanto a disseminação das seitas heréticas como a prática de magia e outros comportamentos considerados pecaminosos. Ao dar especial relevo ao problema, a perseguição contribuiu para que ele adquirisse ainda maiores proporções. Nessa época, o fenômeno freqüentemente se caracterizou como manifestação coletiva, de grandes dimensões e profunda repercussão na vida religiosa, no direito penal, nas artes e na literatura.
Daí em diante, à medida que proliferaram os tribunais da Inquisição, os processos aumentaram rapidamente. A acusação sistemática só se verificou na época que é considerada a última fase da Idade Média, o fim do século XV, principalmente após a bula Summis desiderantes affectibus (1484), do papa Inocêncio VIII, e da obra Malleus maleficarum (1487; Martelo das feiticeiras), dos dominicanos Heinrich Kraemer e Johann Sprenger, em que se firmaram as normas do processo inquisitorial contra a feitiçaria.
A época da verdadeira epidemia de bruxas e teóricos do assunto é a dos séculos XVI e XVII, no contexto da Reforma e da Contra-Reforma. Ainda que, como nos outros casos, implicasse a prática da magia, incluía quase sempre a invocação do demônio e a mobilização de seus poderes, o que a associava à concepção do mal na teologia cristã e a tornava um desafio à moralidade religiosa. Apareceram então os grandes sistematizadores da demonologia -- Jean Bodin, autor de la démonomanie des sorciers (1580; Da demonomania dos feiticeiros), e o jesuíta Martinus Antonius Delrio, autor de Disquisitionum magicarum libri VI (1599; Seis livros de pesquisas sobre magia). Nessa fase, a bruxaria tornou-se tema freqüente na literatura e nas artes plásticas: sobressaíram, por exemplo, Macbeth, uma das mais célebres tragédias de Shakespeare, e as gravuras de Baldung Grien e Jacques Callot.
A perseguição às bruxas foi metódica e violenta no norte da França, no sul e oeste da Alemanha e muito especialmente na Inglaterra e na Escócia, onde houve o maior número de vítimas. Os colonizadores ingleses levaram esse procedimento para a América do Norte, onde, em 1692, ocorreu o famoso processo contra as bruxas de Salem, em Massachusetts.
Em geral, acusava-se de bruxaria mulheres velhas, mas com menor freqüência também jovens e, excepcionalmente, homens. As acusações registradas contra essas pessoas referiam-se a toda espécie de malefícios contra a vida, a saúde e a propriedade: aborto das mulheres, impotência dos homens, doenças humanas ou do gado, catástrofes e temporais. As bruxas eram também denunciadas por pactos com o diabo. Montadas em vassouras, voariam pelos ares e se reuniriam em lugares ermos para celebrar o sabá e entregar-se a orgias. Como cultuariam Satanás, considerava-se que este lhes aparecia como monstro cornudo e sequioso de sacrifícios.
O racionalismo e o espírito científico, que caracterizaram o Iluminismo do fim do século XVII e do século XVIII, contribuíram para o fim desses processos e para que não mais se admitisse perseguição judiciária em casos de superstições populares. O último processo na Inglaterra ocorreu em 1712, e a última fogueira de bruxas na Europa foi acesa em 1782, no cantão suíço de Glarus.
Teorias antropológicas. O fenômeno histórico da bruxaria suscitou numerosos estudos antropológicos, para os quais a intolerância das autoridades eclesiásticas, tanto católicas como protestantes, não seria razão suficiente para explicar o fenômeno de psicopatologia coletiva que representou a crença na bruxaria. Muitos chegaram a acreditar na ocorrência de uma alucinação mediante a qual, contaminadas pela crença geral, muitas mulheres teriam admitido participar de práticas que nunca realmente exerceram.
Outra corrente interpreta a crença nas bruxas como resquício de antigas religiões autóctones européias, nunca inteiramente desarraigadas pela cristianização, que depois se teria mesclado com doutrinas cristãs sobre o diabo. Uma referência seriam as valquírias da mitologia germânica, que, como as bruxas, voavam pelos ares.
No século XX, essa teoria aperfeiçoou-se nas teses da antropóloga inglesa Margaret Murray, para quem a bruxaria seria resídua de uma religião pré-histórica, um culto da fertilidade que sobreviveu à cristianização, sobretudo no meio rural e nas populações descendentes de raças submetidas, como os celtas, o que explica a forte divulgação do culto nas ilhas britânicas. O culto teria sido ressuscitado, sobretudo em tempos de enfraquecimento da igreja, como aconteceu no período da Reforma, nos séculos XVI e XVII. A teoria de Murray, em seus aspectos principais, é rejeitada hoje pela maior parte dos pesquisadores, que a consideram infundada.
Outro britânico, Hugh R. Trevor-Roper, acentuou que, embora realmente a bruxaria tivesse um substrato folclórico, foi a igreja medieval que o sistematizou e o codificou com o fim de reprimir a heresia e exercer coação sobre os desvios doutrinários, criando com isso um autêntico tratado de demonologia.
Essa mescla de ritos arcaicos, superstições, convulsões políticas e perseguições oficiais, que precisavam de bodes expiatórios, fomentou as alucinações de membros de grupos sociais marginalizados -- talvez com manifestações paranormais -- e a imaginação coletiva. Pelo menos na história da Europa, a bruxaria seria basicamente um significativo reflexo das tensões sociais acumuladas nos séculos que antecederam a modernidade. No interior da Inglaterra e de muitos outros países, porém, a crença na bruxaria, sua prática e numerosos ritos de magia persistem até hoje.
Magia; Ocultismo.
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Bruxaria.
Exercício de supostos poderes sobrenaturais por meio de rituais mágicos destinados a beneficiar seus praticantes e causar malefícios a terceiros.
Ocultismo.
Termo genérico que designa a série de teorias, práticas e rituais baseados em conhecimentos secretos e na invocação de forças desconhecidas. Cunhado no século XIX pelo francês Eliphas Lévi.
Esoterismo.
Conjunto coerente e estruturado de princípios secretos de religião ou doutrina filosófica cujo conteúdo só é acessível a um número limitado de iniciados.
Hermetismo (LITERATURA).
Tendência das obras de arte cujo sentido é oculto e impenetrável para o leitor comum e acessível apenas a iniciados.
Adivinhação.
Conjunto de procedimentos ritualísticos utilizados para obter informações sobre acontecimentos futuros.
Oráculo.
Termo que designa, em mitologia, a resposta dada pelos deuses às perguntas formuladas em lugares específicos e mediante determinados rituais. Por extensão, o local da profecia.
Alquimia.
Atividade pré-científica que buscava atingir melhor compreensão do cosmos e transformar metais de pouco valor em ouro e prata. Sua origem remonta à antiguidade.
Astrologia.
Disciplina que busca determinar a influência dos astros no caráter, comportamento e destino dos homens.
Nostradamus (1503-1566).
Astrólogo e vidente francês. Famoso por suas profecias, analisadas e interpretadas até hoje por muitos estudiosos.
Rosa-Cruz.
Ordem secreta que combina elementos de ocultismo de várias religiões e crenças antigas, para a obtenção de sabedoria esotérica. Fundada na Idade Média por Christian Rosenkreuz, segundo a tradição.
Quiromancia.
Arte de predizer o futuro e revelar fatos passados com base nas linhas e relevos da mão. Sua origem remonta às civilizações antigas.
Magia.
Conjunto de representações ou atividades rituais supostamente capazes de influenciar pessoas ou acontecimentos, por ação de forças místicas ou transcendentais.
Fetichismo.
Atribuição simbólica a pessoas, partes do corpo ou coisas de propriedades ou características que emanam de outros objetos ou seres.
Animismo.
Estágio primitivo do espírito religioso que consiste em atribuir alma a objetos e fenômenos naturais. Descrito pelo antropólogo Edward Tylor no século XIX. O fetichismo e o totemismo podem ser considerados variantes do animismo.
Reencarnação.
Termo que designa a possibilidade que a alma tem de voltar a habitar um corpo. Crença oriunda do Oriente foi adotada pelos gregos e por religiões mais recentes, como o espiritismo.
Bramanismo.
Nome dado à fase mais antiga da religião hindu, que se estende de meados do segundo milênio a.C. ao início da era cristã. Derivado de Brahma, forma masculina do deus criador

Nenhum comentário:

Postar um comentário